MAR - Museu  de Arte do Rio 


TATU: futebol, adversidade e cultura na caatinga  (2014)
 
Curadoria: Paulo Herkenhoff e Eduardo Frota, curadores.

O tatu não é azul. A carapaça amarronzada adverte que o tatu-bola não se vincula aos céus, mas ao chão. A bola-tatu não voa, mas contém sua defesa: torna-se bola como forma de proteção por não saber cavar a terra para se esconder. Protegido contra predadores naturais, é presa fácil do homem e, logo, é vítima no desequilíbrio ambiental. Tudo no tatu-bola leva à terra quente e avermelhada de seu habitat – a caatinga –, o sertão que abrange parte do Norte e do Centro-Oeste do Brasil, além de praticamente todo o Nordeste. Alguns reduziram o tatu-bola de mascote da Copa do Mundo – oportunidade de se tornar uma reflexão lançada em escala mundial – ao símbolo do futebol global. Triste sina. As expectativas de entidades de defesa da natureza eram de que a Copa contribuísse para a salvação do tatu-bola da extinção. Daí o nome Fuleco = FUteboL+ECOlogia. A caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, é abundante e árida em simultâneo. Habitat retorcido de miséria e esgalhado em vasta riqueza sociocultural, a adversidade marca sua história e sua cultura de resistência.

A escolha do tatu-bola como mascote da Copa lança, aqui, o desafio político, neste momento intenso da vida pública do país: como pensar a bola – o jogo em sua versão mais comum, como também o esporte, em sua versão profissionalizada – a partir da perspectiva do tatu? Decerto, um pensar-tatu pode fazer perguntas produtivas para reflexões sobre o presente e o futuro do Brasil. Questionando os estereótipos da bola e, pois, do futebol, o tatu-bola questiona territorialidades que junto a ele se anunciam: que tipo de Brasil se mostra nesse bicho e que brasis, porventura, se abafam na carapaça azul de sua versão mascote?

Tatu: Futebol, Adversidade e Cultura da Caatinga faz-se sob o ponto de vista do bicho vivo. O imaginário da caatinga, do tatu e da bola conduz-se aqui pela óptica da adversidade que pauta a história do Brasil. Arte e artefatos culturais percorrem o ecossistema luminoso e quente da caatinga, o tatu na mitologia de sociedades indígenas, a invenção simbólica e política do sertão – a seca, o cangaço, a literatura social, o cinema novo, a arte contemporânea –, até o futebol da bola adversa (não a bola padrão Fifa, mas a irregular bola-tatu), o jogo entendido como uma importante forma de sociabilidade e de resistência. A partir do tatu, cabe experimentar a bola em sua reinvenção da perfeição esférica, aproximando-se da força política e da potência estética das formas cuja adversidade acumula uma energia pronta a explodir. Por fim, a escolha do tatu-bola e de sua caatinga se deve, primordialmente, à pesquisa no Ceará que concluiu que uma criança pobre conhece apenas metade do vocabulário de uma de classe média. Uma experiência na caatinga de aceleração de aquisição de vocabulário nas escolas resultou em avanços em todas as disciplinas. O que pode a arte para ampliar o vocabulário de uma criança? A partir dessa indagação crucial para o MAR começa o jogo da Copa, pois o legado do museu para as escolas serão projetos educativos.


artistas:
Aldemir Martins, Alemberg, Alex Flemming, Almir de Araújo; Balinha; Marquinho Lessa; Hércules & Carlinhos de Pilares, Ana Vitória Mussi, Angelo Marzano, Antônio Bandeira, Arthur Bispo do Rosário, Babinski, Bola de Cegos, Burle Marx, Carlos Coimbra, Charles Landseer, Chico Albuquerque, Cildo Meireles, Cícero Alves dos Santos, Claudio Trindade, Coletivo Doma & Tec, Construtivismo Rural, Daniel Senise, Delson Uchôa, Djacir Menezes, Dorival Caymi, Eduardo Coimbra, Eduardo Coutinho, Eliseo, Evanildo Vila Nova; Geraldo Amacio; Braulio Tavares & Wamir Teles, Fábio Barreto, Felipe Barbosa, Fernando Ancil, Flávio Shiró, Francisco Brennand, Francisco de Almeida, Frans Post, Gerchman, Gia Bahia, Gil Vicente, Grupo EMPREZA, Guilherme Olímpio, Heloisa Juaçaba, Hélio Oiticica, José Bezerra, Julio Leite, Kurt Klagsbrunn, Leonardo Finotti, Letícia Parente, Lima Barreto, Lula Wanderley, Marcelo Gomes, Marcelo Silveira, Miguel Rio Branco, Nelson Leirner, Nelson Pereira dos Santos, Neves Torres, Pablo Lobato, Paulo Nazareth, Paulo Pfeiffer, Pinhas, Priscila Monge, Raimundo Cela, Raul Mourão, Snark, Solon Ribeiro, Tadeu Jungle, Thomaz Farkas, Victor Lima e Walmor Corrêa



des(a)terro  70 anos Masc (arte contemporânea em Santa Catarina - 2018)


Curadoria: Josué Matos