a vácuo
peças de xadrez embaladas em saco plástico a vácuo
35 x 23 cm
peças de xadrez embaladas em saco plástico a vácuo
35 x 23 cm
bexigas brancas embaladas em saco plástico a vácuo
35 x 23 cm
bexigas brancas embaladas em saco plástico a vácuo
35 x 23 cm
bexigas pretas embaladas em saco plástico a vácuo
35 x 23 cm
bexigas pretas embaladas em saco plástico a vácuo
35 x 23 cm
bexigas pretas embaladas em saco plástico a vácuo
35 x 23 cm
bexigas pretas embaladas em saco plástico a vácuo
35 x 23 cm
cachimbo embalado em saco plástico a vácuo
35 x 23 cm
cachimbo embalado em saco plástico a vácuo
35 x 23 cm
ferro de passar roupa embalado em saco plástico a vácuo
35 x 23 cm
ferro de passar roupa embalado em saco plástico a vácuo
35 x 23 cm
cadeado enferrujado embalado em saco plástico a vácuo
35 x 23 cm
cadeado enferrujado embalado em saco plástico a vácuo
35 x 23 cm
ventoinha embalada em saco plástico a vácuo
35 x 23 cm
fita cassete embalada em saco plástico a vácuo
35 x 23 cm
Arte a vácuo, de Cláudio Trindade
por Sérgio Medeiros*
Ao admirar um cachimbo -- saído de uma antiga natureza morta? --, dentro de um saco plástico de alimento fechado a vácuo, cogitei que Cláudio estaria reiventando justamente o conceito de "natureza morta", nessa sua nova série de objetos plastificados a que me refiro aqui. No lugar das frutas, das flores e das aves e animais mortos, das estatuetas e toalhas, temos objetos industrializados, recentes ou não, inteiros ou danificados: ventilador, ferro de passar, fita de gravador etc. Esses objetos, de repente imobilizados, mortos ou preservados, aparecem com sua aura clara, aura de plástico, levemente ondulada, e momentaneamente pacificadora -- a aura promete "algo" aos objetos que envolve. A aura é tão importante quanto o objeto em si. Os objetos "falam" da fumaça, do vento, do calor, do som, da eletricidade que tiveram um dia..., justamente porque têm aura: a aura é isso, essa vida que escapa e é preservada a vácuo em cada obra, como uma possibilidade de renascimento (nem que seja na memória do espectador). Imagino -- tento imaginar -- esses objetos dispostos numa prateleira. No fundo obscuro da loja (remeto a Lewis Carroll) há, não um ovo plastificado (a múmia de Humpty Dumpty), mas uma bola, bola de bilhar (um dos temas da obra de Cláudio) e talvez também uma bola de golfe (sugestão minha), um Humpty Dumpty encolhido, pequeno, mas ainda redondo e perfeito, sempre igual a si mesmo. Humpty Dumpty, só para lembrar, é o hermeneuta, aquele que interpreta a obra, ou que lança as bolas (da hipótese) em direção ao alvo (o sentido) -- sempre esquivo... Os objetos plastificados do Cláudio não são grandes, caberiam em qualquer mesa que servisse de modelo para um pintor do passado (renascido no presente) que quisesse pintar uma natureza morta clássica, ou quase. São pequenos, mas parecem proliferar infinitamente, como os objetos dos artistas colecionadores. Lembro-me de Bispo do Rosário, a quem o artista talvez preste uma homenagem. Um dia, assim como Bispo, Cláudio também terá sua loja monstruosa, repleta de objetos do cotidiano transfigurados pela aura. Não por acaso, Bispo usava a palavra "vitrine" para nomear assemblages em geral.
Não estaríamos agora diante de uma "vitrine" do supermercado Natureza Morta? Aberto dia e noite, com sua aura indestrutível?
*Sérgio Medeiros é poeta, ensaista, tradutor e professor de Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)